domingo, 20 de maio de 2012


ACEITAÇÃO E ENTREGA

Sempre que puder, olhe para dentro de si mesmo e procure ver se você está inconscientemente criando um conflito entre as circunstâncias externas de um determinado momento - onde você está, com quem está ou o que está fazendo - e os seus pensamentos e sentimentos.


Você consegue sentir como é doloroso ficar se opondo internamente ao que é ?


Quando reconhece esse conflito, você percebe que agora está livre para abrir mão dessa guerra interna inútil.

Quantas vezes durante o dia, se você fosse verbalizar sua realidade interior, teria de dizer "Não quero estar onde estou"?


Como é sentir que não quer estar onde está - num engarrafamento, no seu local de trabalho, na sala de espera do aeroporto, ao lado de determinadas pessoas?


É verdade que é ótimo conseguir sair de certos lugares - e às vezes é a melhor coisa que você pode fazer.
Mas, em muitos casos, você não tem possibilidade de sair. 


Em todos esses casos, o "Não quero estar onde estou" não só é inútil como prejudicial.
Deixa você e os outros infelizes.


Já foi dito: aonde quer que vá, você se leva.


Em outras palavras: você está aqui. 
Sempre. 
Será que é tão difícil aceitar isso?

Você precisa criar um rótulo para tudo o que sente, para tudo o que percebe e para toda experiência? 
Precisa ter uma relação de gosto/ não gosto com a vida, mantendo um conflito quase ininterrupto com situações e pessoas? 


Ou será que é apenas um hábito que pode ser rompido? 
Não é preciso fazer nada, basta deixar que cada momento seja como é.


O "não" reativo e habitual fortalece o ego, o "eu" autocentrado.
O "sim" o enfraquece. 
Seu ego não é capaz de sobreviver à entrega.

"Tenho tanta coisa para fazer." 
Muito bem, mas existe qualidade no que você faz?

Falar com clientes, trabalhar no computador, realizar as inúmeras tarefas do seu cotidiano - você faz tudo isso com a plenitude do seu ser?


Quanta entrega ou recusa existe no que você faz? 


É essa entrega que determina o seu sucesso na vida, não a quantidade de esforço empreendido. 
O esforço implica estresse, cansaço e necessidade de alcançar um determinado resultado no futuro.


Você consegue perceber qualquer indício interior que revele que você não quer fazer o que está fazendo? 
Se isso acontece, você está negando a vida, e é impossível chegar a um bom resultado.


Se você percebe esse indício, é capaz também de abandonar essa vontade de não fazer e se entregar ao que faz?

"Fazer uma coisa de cada vez", como um mestre definiu a essência da filosofia zen, significa dedicar-se plenamente ao que está fazendo. 
E um ato de entrega – uma ação poderosa.

Quando você aceita o que é, atinge um nível mais profundo. 
Nesse nível, tanto seu estado interior quanto sua noção de "eu" não dependem mais dos julgamentos feitos pela mente do que é "bom" ou ruim .


Quando você diz "sim" para as situações da vida e aceita o momento presente como ele é, sente uma profunda paz interior.

Superficialmente, você pode continuar feliz quando há sol e menos feliz quando chove; pode ficar contente por ganhar um milhão e triste por perder tudo o que tem. 


Mas a felicidade e a infelicidade não passarão dessa superfície. 
São como marolas à tona do seu ser. 
A paz que existe dentro de você permanece a mesma, não importa qual seja a situação externa.

O "sim" para o que é mostra que você tem uma dimensão de profundidade que não depende das condições externas nem das internas, com seus pensamentos e emoções sempre flutuantes.

A aceitação e a entrega se tornam muito mais fáceis quando você percebe que todas as experiências são fugazes e se dá conta de que o mundo não pode lhe oferecer nada que tenha um valor permanente. 

Ao aceitar e entregar-se, você continua a conhecer pessoas e a se envolver em experiências e atividades, mas sem os desejos e medos do "eu" autocentrado. 

Ou seja, você deixa de exigir que uma situação, uma pessoa, um lugar ou um fato o satisfaçam ou o façam feliz. 

A natureza passageira e imperfeita de tudo pode ser como é.
E o milagre é que, quando você deixa de fazer exigências impossíveis, todas as situações, pessoas, lugares e fatos ficam satisfatórios e muito mais harmoniosos, serenos e pacíficos.

Quando você aceita totalmente o momento presente, quando deixa de discutir com o que é, a compulsão de pensar diminui e é substituída por uma calma atenta. 

Você fica plenamente consciente, mas sua mente não dá qualquer rótulo para esse momento. 

Quando você deixa de resistir internamente, abre-se para a consciência livre de condicionamentos, que é infinitamente maior do que a mente humana. 

Essa vasta inteligência pode então se expressar através de você e ajudá-lo tanto por dentro quanto por fora. 

É por isso que, ao parar de resistir internamente, você costuma achar que as coisas melhoraram.

Você acha que estou lhe dizendo "Aproveite o momento. Seja feliz"? Não.
Estou dizendo para você aceitar esse momento tal como ele é. 
Isso já basta.

A entrega consiste em entregar-se a esse momento, e não a uma história através da qual você interpreta esse momento e depois tenta se conformar com ela.

Por exemplo: você pode sofrer um acidente e ficar paralítico. 
A situação real é esta.

Será que sua mente vai inventar uma história que diz: "Minha vida ficou assim, acabei numa cadeira de rodas. 
A vida foi dura e injusta comigo. 
Eu não mereço"?
Ou será que você é capaz de aceitar esse momento tal como é e não confundi-lo com uma história que sua mente inventou a partir da situação real?

A aceitação e a entrega existem quando você não se pergunta mais: "Por que isso foi acontecer comigo?"

Mesmo nas situações aparentemente mais inaceitáveis e dolorosas existe um profundo bem. 

Dentro de cada desgraça, de cada crise, está a semente da graça.

A História mostra homens e mulheres que, ao enfrentarem uma grande perda, doença, prisão ou a ameaça de morte iminente, aceitaram o que era aparentemente inaceitável e, assim, encontraram "a paz que vai além de toda a compreensão".

Aceitar o inaceitável é a maior fonte de graças que existe.
Há situações em que nenhuma resposta ou explicação satisfaz. 
Nesses momentos a Vida parece perder o sentido. 
Ou alguém em desespero pede sua ajuda e você não sabe o que dizer ou o que fazer.
Quando você aceita plenamente que não sabe, desiste de lutar para encontrar a resposta usando o pensamento de sua mente limitada. 

Ao desistir, você permite que uma inteligência maior atue através de você. 
Até o pensamento pode se beneficiar com isso, pois a inteligência maior flui para dentro dele e o inspira.
Às vezes, entregar-se significa desistir de querer entender e sentir--se bem com o que você não sabe.

Você conhece pessoas cuja maior função na vida parece ser cultivar a própria infelicidade, fazer os outros infelizes e espalhar infelicidade? 

Perdoe essas pessoas, pois elas também fazem parte do despertar da humanidade. 
O papel delas é intensificar o pesadelo da consciência autocentrada, da recusa à aceitação e à entrega. 

Não há uma escolha deliberada na atitude delas. 
Essa atitude não é o que elas são.
Pode-se dizer que a entrega é a transição interior da resistência para a aceitação, do "não" para o "sim". 
Quando você se entrega, a noção que tem de si mesmo muda. 

O "eu" deixa de se identificar com uma reação ou um julgamento mental e passa a ser um espaço em torno da reação ou do julgamento. 
O "eu" não se identifica mais com a forma - o pensamento ou a emoção - e você se reconhece como algo sem forma: o espaço da consciência.

Qualquer coisa que você aceite plenamente vai levá-lo à paz, o que inclui a aceitação daquilo que você não consegue aceitar, daquilo a que você está resistindo.

Deixe que a Vida seja.

Do livro 'O PODER DO SILÊNCIO'-ECKHART TOLLE

Ótimo domingo bjssss









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